sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015


a hora do rush
é sempre perpétua.
folhas secas,
confetes de morte
bailando na sarjeta.
sou patrimônio
de lugar algum,
síntese de coletividade
deformada,
azia da máquina náutica
sem âncora
num mar cáustico.

(Sidney machado e Myla Cortéz)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015



brisa impassível
ao sol do meio dia.
o solidificar da argila
ante a inércia
dos restos de comida.

é das rachaduras
que nasce
a falange das formigas,
e do confinamento
a fortaleza da alquimia.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015



Rosto cálido
Pedem-me pra falar
De coisas límpidas e bonitas;
No entanto, falarei
Do esperma que jorrava
(ternamente)
Sobre o rosto cálido
Da jovem
Que o recebia,
Aflita e ansiosa.
Também não esqueço
Da masturbação realizada
Por seus dedos delicados.
Estávamos em sua casa.
Ah! Aquele olhar
Devorava-me com sua timidez forjada.
Ela, finalmente,
Depositou na boca o líquido pastoso
E o degustava
Com olhos
                  (suavemente)

                                           Abertos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015



Fetiche
Amordace, amarre & abra
A palavra
E em seguida a dissolva
 Na panela
Utilizando a própria urina.
Uma forma de fezes será criada.
Deixe-a de molho por três dias
Ao ar livre.
(não se incomode com os vizinhos)
Acrescente pimenta & chumbinho.
Leve-a ao forno por 30 minutos.
Como todo bom cozinheiro,
Espere mais tempo se for preciso.
Apague o fogo e despeje tudo
Num tosco vaso de barro
Surrupiado de um despacho
Sem que se pedisse licença.
Logo após, durma com ele pra dar sorte.
Ao acordar, misture o “composto”
Na comida repleta de temperos
 E convide a todos que mereçam
Ou não o convite.
Não estranhe se você estiver
A ponto de cometer um crime.
Isso é apenas um detalhe frígido.
No RJ 97% dos delitos não são resolvidos.
E se até a palavra
Já foi caustica-mente assassinada,
Todo o resto é apenas fetiche.




terça-feira, 3 de fevereiro de 2015



Parábolas

Corredores fragmentam-se em pedaços de coisas mal digeridas enquanto caminho com lâminas cravejadas em minhas mãos parcialmente enlameadas (tudo é profético). Na mochila, livros e revistas na fila de espera. O mundo é grandioso quando o resultado das pequenas coisas é o bueiro das consciências (viva a controvérsia). O valor da vida não se mede a partir do que se vive ou do que se pensa sobre ela. A existência não se resume a palavras ou ações concretas. Olhai as pedras, que, nada fazem, pensam ou lamentam. Por que não somos tais como elas? Meras existências desprovidas de intermináveis sentidos e desdobramentos.