segunda-feira, 19 de dezembro de 2016





com asas e sombras
clima de dança 
em sua ânsia tardia
de girassol
com suas sementes expostas
como quem dá as mãos 
para a própria dança 
e não cansa de ser sol.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016




gestos e pausas
e isso:
a fratura da linguagem
arcabouço de tantas bifurcações
o incerto e suas veias ocultas
o oculto e suas partituras de nuvens
o incômodo e toda sua textura de signos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016




tanto em quase

é tanto tempo
e quase nada
tudo só é quando
e quase, só é nada

tanto quando
pra pouco quase

sempre tanto
pra ser quando
em quase nada
ou quando em tudo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016




seu carinho-susto
sua lágrima-sorriso
e essa penumbra nas mãos
a menina do algodão doce
seu pai no meio do mundo
e as nuvens?

terça-feira, 22 de novembro de 2016





reflexo de castanho abotoado
em seus olhos de mitra
nos cantos, a melancolia
ao centro, o silêncio tímido de véspera
ao fundo, um vulto carnívoro observa.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016




estado de graça

a coisa posta
que é dada à fantasia:
cria. e isso é tudo


antíteses e metonímias
recriam medidas e distâncias 
essenciais ao sonho


sucessivas vírgulas 
não perfilam texturas
e vísceras e margens


há também pouso
nas reticências
e furo nas exclamações


a torção está nos dois pontos
e o avesso na planície 
do papel em branco


o tempo desimportante
é o éter incendiado
em estado de graça
ou a graça em estado
de fantasia em ser esfinge
faca e até palavra.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016




quase poema, poema enfim

certa noite quase não durmo
uma engrenagem de ruídos 
acalentava minha insônia 
de escrever algo novo
e as pestanas da cama
me encobriam o enigma
daquela noite
quando enfim eu fechava
os olhos para o poema
que não veio
embriagado de vitória contra mim.



o todo e a parte

toda presença 
é uma presença toda
em parte
em parte sendo o todo
de um dia
(apenas)
e é mais do que suficiente
dentro das amplitudes
não tão lineares
que nos cabem

não à toa
podendo ser meio-termo
amo e odeio
o minuto, esse despeito bêbado 
quando não, uma parte
considerável do mistério
que é pêndulo

a matéria em decomposição 
fora do plano dos olhos
minha presença se avizinhando
na seiva de teus cheiros
nessa manhã ausente
de tarifa de embarque
para qualquer território 
de seu todo que me parte
as metáforas em palimpsestos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016




algo a se pensar
(para esperando leitor)

não quero soluções esquemáticas
nem joguinho fácil e barato de imagens e de palavras.
a poesia vai muito além da metáfora.
chega de fórmulas usadas em exaustão
por tantos poetas.
a magia de escrever na atualidade
não se limita a influência direta e repetitiva
de leminski, manoel de barros e augusto dos anjos,
com todo respeito aos três
em se tratando de verso.
amo-os igualmente.
o que critico é o “mais do mesmo”
nos dias de hoje,
tanto na composição
como na dispersam dos elementos
em se tratando de ritmo e de imagens
e também de ideias.
enfim, é só um debate que quero colocar
e deixar em aberto pra quem quiser
acrescentar algo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016



a todos que vivem de poesia

utopia libertadora é essa
de viver de poesia,
acreditar na sarjeta,
fornecer inutilidade pras pessoas.
“vender gato por lebre”,
como diria leminski.
e ainda cultuar o silêncio
sobre todas as coisas.
é... alguém tinha que ficar com a parte
carnal e espiritual da ausência.
a poesia nunca prometeu
a autossuficiência, só a suspensão.
e também nos pede a única coisa
que não podemos negar:
o espírito. jamais o corpo.
esse já tem dono; ou melhor, dona: a vertigem.



na transparência do vidro
e na fome da forma 
em ganhar sentido
o símbolo reina ininterruptamente 
em todas as direções.



a manoel de barros

nem sempre a imagem 
se agarra à palavra 
e a palavra à ideia de casca
quebrada sem nenhum arranhão 
que é só pretexto 
para dizer primavera 
com gosto de infância
em seus primeiros momentos 
de planta.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016





ao deus desconhecido, o homem

eu o vejo
no cerne da cidade
figura que cria
ao ser símbolo
em seu próprio processo
já foi isso
aquilo, urtiga
e terminou assim
a caminhar sem vazio
(o fim do fim, o último)
a vertigem cortada, ato iniciático
o peito rasgado de labuta
seu esqueleto sem alma
sua sombra sem corpo
(eis o fim, o famoso “meio”
no ocidente)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016



raiz de mordidas

com formato de céu
e mandíbula de lua
que serpenteia na boca
raiz de mordidas e umidade
que se emancipa na língua
reinventa a boca
a ressignificando nos dentes
em cada textura de silêncio
em cada sopro de mordida
sonho de realidade sussurrada
por ser pouso
em sua superfície telúrica
sonho só é sonho
na carnalidade da unha
e de teu silêncio tão verso.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016



a sombra entre sombras
o dedo entre páginas
páginas alimentam sombras
sombras subvertem dedos
a sombra entre sombras
partindo do dedo
o dedo correndo faz página
de si mesmo.




segunda-feira, 24 de outubro de 2016




como esconder tanto silêncio 
em suas cores de sombra
pintadas por mãos de criança? 
pra que tanto sono nesse corpo
na folha que sou eu mesmo?
e te olho uma segunda vez
teus olhos me vendo pela primeira.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016




a carla oliveira

nuvem não é só passatempo
muda de forma
e engole o tempo
cospe brisa
que acaricia teu rosto
quase lambendo
eterno sendo
em seu semblante
sem culpa.

terça-feira, 4 de outubro de 2016



poema
nesse momento difícil )

ser desalojada de seu próprio poema
vê-lo converter-se em gestos e cheiros
e silêncio, cor invisível do tom
não é justo regar a luz
e virar poeira

força, fefas

quarta-feira, 27 de julho de 2016

bons ventos
(para maira)

sei que o vento passou
e o vento que volta
jamais é o mesmo
já ouvi dizer até que
existem famílias de vento
e esse que passa agora
me anunciou que
é provável que chova
e eu amanheça nuvem
no teu cabelo
e é quase possível
que partes de mim se dissolvam
e adentrem tua pele
viverei enquanto promessa
que ninguém fez
ou como sonho
que ninguém sonhou
e que no entanto existe
numa fração subterrânea
do teu sono
viverei ali até que o próximo vento
me chame para outras partes de ti.

quarta-feira, 20 de julho de 2016





neblina & cinzas
do dia que escorre
pela sombra das horas
no frio do minuto
no outono de uma vontade.

segunda-feira, 18 de julho de 2016




desejo um céu azul
para toda palavra
que paira solitária
cinza em sobrevoar o mar
lilás em estar no mundo
vermelha em almejar o absoluto
que a racionalidade 
nem sequer permeia.

quinta-feira, 7 de julho de 2016



os ecos que titubeiam
teiam o som do caminho
pelo menos aparentemente
correm com olhos brilhantes
decolam com toques do nunca.



uma ratazana que agoniza
antes da morte
cercada por belas esculturas
sepultura  para quem olha
de dentro
flor para quem morre
por fora
sorriso para  quem torce
bem como um abraço
para quem vive do escarro
das traças.

terça-feira, 28 de junho de 2016



a água não me basta 
quando estou só
o fogo não me ilude
quando estou junto
sempre em movimento
com o ar
perdido em propostas 
que não alcanço
(e nem preciso)

o “estar aqui”
quase me retém
e a caminhada não aquece
meu chão
não me deem porquês.

terça-feira, 14 de junho de 2016



fronteira sem cercas
(para lucielle veras)

algo a se abraçar:
a centelha de segredo necessário
para se calcar o vazio,
“onde as palavras não vivem”
e o desejo é espasmo
ante a fronteira sem cercas
no olhar de um menino
que não descobriu o horizonte
por não romper com a verticalidade
do voo com asas fincadas
nas pedras.
voltemos ao silêncio.

quarta-feira, 1 de junho de 2016



alguma coisa
(para
 flavia magioli)

de todas as rugas e premissas
que caíram dos meus descuidos,
só me restou o conforto
de fonemas entrecortados
pelo meu delírio de acreditar
na eternidade de alguns segundos.
somos o vento enquanto metáforas
de alguma coisa que ainda não vemos.

sábado, 28 de maio de 2016




palavras sem rosto, resíduos de boca
almas dançantes sob a trépida luz 
da lâmpada. o ventilador faz barulho
o chuveiro respinga o sangue que verte
a vida. sagrado em mulher
vi na tua face, sorriso de menina
flertando com a morte. com o amor. amorte.


(taíssa buffone & sidney machado)




a praça e o vento
na pedra
sem cara
sem te encarar.

(sidney machado & madonna eiko)
'f




pontinhos na saia
que não despertaram
pra chuva que nos olha
quando paramos 
pra atravessar o vento
que rodeia o círculo
desse quadrado que inventamos.

(sidney machado & madonna eiko)





passa na praça
e para nos olhos
não entra.

(sidney machado & madonna eiko)





as árvores em família
se ausentam
de qualquer poeira
dispersam
sem evidencias.


(sidney machado & madonna eiko)