domingo, 20 de julho de 2014





Medonhas e excluídas formas de vidas mutiladas que, no decorrer do período diurno, se mantinham ocultas e a noite colocou-as à solta. Criaturas ofuscadas na penumbra de abandonados sobrados entre fétidos destroços de urbanas cidades fantasmas, ainda que precariamente habitadas e por guerras e epidemias desoladas. Veem nas sombras um relampejo de improvável chance de atravessar a espessa muralha do tempo e encontrar as águas turbilhonantes de outrora -- uma forma de encantatórios anseios em círculos e redemoinhos perpétuos de inquietantes promessas advindas de esperas sem nenhuma base concreta. A ilusão agarra as almas que somente esperam.

sexta-feira, 11 de julho de 2014



Um monumento à dor, à postura do guardião das lágrimas, agora exauridas nas pétalas esfaceladas na sepultura esquartejada, subdividida em partes metálicas contorcidas e expostas ao litígio sem causa.
O guardião se cala ante a inconstância da fala. A língua é muda para quem não encontra a gênese do despertar das facas. Não há o que se fazer quando as lágrimas expelem a angústia líquida. Libertam-se da prisão os fatos deletérios no anoitecer dos cacos. A piedade não se faz condolente aos fortes, mas aos que dormem sobre a sepultura e não ouvem o seu chamado, sempre velado, uma forma de uivo, convite solene para o outro lado. O “não existir” é sempre suave, objetivo, até menos obscuro em contraponto ao que dizem os oráculos desse mundo. A solidão derradeira já não é refúgio nem subterfúgio.  Na não existência, o mais sensato é optar por aquilo que não é. Ser livre para escolher e não ser livre para criar suas alternativas de escolha é a pior das sortes.





O vento, em desespero, ao relento,gritando pedras e cuspindo flores; exalando rochas e salivando conchas...
Incauta maré que sangra no olhar salino.
Outono escama nostalgia. Eis os moinhos girando em movimentos impróprios.
Joelhos cálidos, imersos na espuma terna da maré que exacerba no orgasmo desse encontro inesperado.Torna-o oculto, ausente,afogando-o nas profundezas infindas que degustam e regurgitam o excesso do ávido prazer, e, em contraponto, eis o vazio contínuo, como a fé morta em pomares de tristeza absíntica.
Internalizado encontra-se o olfato no escafandro submerso, negando-se à absorção do olor universal, enquanto o indizer, aparente ação anárquica do agressor, negação insípida do humano ser, reflete, na verdade, a mudez pigmeia do indivíduo ante a policromia do amanhecer.

A revolução do logicismo faz amotinar as palavras que se sublevam da cotidiana rigidez relacional e buscam novas formas de sintaxes agressivas, como nuvens de asfalto, cinzas de ócio, numa mistura deformada que as conduzem ao abismo do escárnio, encerrando nele os pretensiosos e alomórficos neologismos do insano dizer.

(Sidney Machado e Fernando Rodrigues)

Obs.: Texto em sua segunda versão, já revisada.