quarta-feira, 10 de dezembro de 2014






Numa simples conversa fatalista
com vírus e insetos entendi,
finalmente, que,
o dialogismo das formas e grafemas
é uma entidade cíclica e mítica,
sempre à revelia do que se degusta

no café da manhã.

domingo, 30 de novembro de 2014




O silêncio das paredes
todas as “x”
em que me recolho
solitário e absorto
torna-me
(momentaneamente)
impávido.

Renasço dos “pe-da-ços”
de cada novo encontro
comigo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014



Louvo a compulsória puberdade 
dos acasos que se contradizem 
e a lânguida alegria sequestrada 
por insufladas doses de anfetamina.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014





A língua úmida sobre a ferida exposta. Saliva, sangue e pus que escorre pela perna inóspita. Grunhidos de dor intercalados com brados de cólera. Fascínio incontido e profícuo para olhos insanos e sedentos por inebriantes chagas. 

domingo, 20 de julho de 2014





Medonhas e excluídas formas de vidas mutiladas que, no decorrer do período diurno, se mantinham ocultas e a noite colocou-as à solta. Criaturas ofuscadas na penumbra de abandonados sobrados entre fétidos destroços de urbanas cidades fantasmas, ainda que precariamente habitadas e por guerras e epidemias desoladas. Veem nas sombras um relampejo de improvável chance de atravessar a espessa muralha do tempo e encontrar as águas turbilhonantes de outrora -- uma forma de encantatórios anseios em círculos e redemoinhos perpétuos de inquietantes promessas advindas de esperas sem nenhuma base concreta. A ilusão agarra as almas que somente esperam.

sexta-feira, 11 de julho de 2014



Um monumento à dor, à postura do guardião das lágrimas, agora exauridas nas pétalas esfaceladas na sepultura esquartejada, subdividida em partes metálicas contorcidas e expostas ao litígio sem causa.
O guardião se cala ante a inconstância da fala. A língua é muda para quem não encontra a gênese do despertar das facas. Não há o que se fazer quando as lágrimas expelem a angústia líquida. Libertam-se da prisão os fatos deletérios no anoitecer dos cacos. A piedade não se faz condolente aos fortes, mas aos que dormem sobre a sepultura e não ouvem o seu chamado, sempre velado, uma forma de uivo, convite solene para o outro lado. O “não existir” é sempre suave, objetivo, até menos obscuro em contraponto ao que dizem os oráculos desse mundo. A solidão derradeira já não é refúgio nem subterfúgio.  Na não existência, o mais sensato é optar por aquilo que não é. Ser livre para escolher e não ser livre para criar suas alternativas de escolha é a pior das sortes.





O vento, em desespero, ao relento,gritando pedras e cuspindo flores; exalando rochas e salivando conchas...
Incauta maré que sangra no olhar salino.
Outono escama nostalgia. Eis os moinhos girando em movimentos impróprios.
Joelhos cálidos, imersos na espuma terna da maré que exacerba no orgasmo desse encontro inesperado.Torna-o oculto, ausente,afogando-o nas profundezas infindas que degustam e regurgitam o excesso do ávido prazer, e, em contraponto, eis o vazio contínuo, como a fé morta em pomares de tristeza absíntica.
Internalizado encontra-se o olfato no escafandro submerso, negando-se à absorção do olor universal, enquanto o indizer, aparente ação anárquica do agressor, negação insípida do humano ser, reflete, na verdade, a mudez pigmeia do indivíduo ante a policromia do amanhecer.

A revolução do logicismo faz amotinar as palavras que se sublevam da cotidiana rigidez relacional e buscam novas formas de sintaxes agressivas, como nuvens de asfalto, cinzas de ócio, numa mistura deformada que as conduzem ao abismo do escárnio, encerrando nele os pretensiosos e alomórficos neologismos do insano dizer.

(Sidney Machado e Fernando Rodrigues)

Obs.: Texto em sua segunda versão, já revisada.



segunda-feira, 30 de junho de 2014





Banquete Canibalesco

O sangue está posto,
Exposto. Beba-o.
A carnificina
Dos sonhos
Está à mesa.
Aproveite o tempero.
Só não indague
De onde veio.
Mas não se aborreça.
Queria muitíssimo
Vê-lo.
A sua pessoa
E os demais
Convidados foram
Escolhidos à dedo.
Sente-se e ao
Decoro esqueça.
Sirva-se da maneira
Como queira.
Coma e beba
De tudo que
Dar-lhe na
Telha.
Repita se assim
O quiser.
Entretanto
Guarde espaço
Para a sobremesa.
Uma iguaria
De artérias e encéfalo
Retirados de corpos
Atropelados hoje cedo.

Ainda estão frescos.
Sinta só o cheiro.
Uma beleza canibalesca.



quinta-feira, 26 de junho de 2014




um conluio orquestrado na penumbra. Lograr planejam. Pacto entre seres infames que se mancomunam. Não importa quão miserável e excruciante seja. O dolo, vício comum. Fio tênue entre a apoteose e o caos idílico. O instinto é o que perpassa neles e convida-os ao erro, e a promiscuidade do viver funéreo, o que mais os excita.

quinta-feira, 19 de junho de 2014







                                                 O contorcer
Da  linguagem
Divaga o empecilho,
Camufla o ar,
Estonteia a evasiva,
Enterra-se no mar;
Volta à superfície,
Deságua sobre o luar,
Calunia o livre arbítrio,
Faz pasmar;
Molda o impensado,
Cauteriza o encoberto,
Transfigura a palavra,
Desafoga o deserto.

segunda-feira, 16 de junho de 2014





                                                             Performática paisagem discursiva
                                                             E concreta do etéreo olhar
    Iconoclastia lírica e endêmica
Da leveza lúdica e estética
   Com a embriaguez linguística
         Do urbano e híbrido “tornar-se”.

segunda-feira, 9 de junho de 2014




                                                           Sem forma e opaco
                                                          O devaneio  de quem procura
                                                          O acaso do que se foi
                                                          O agora de quem flutua.

terça-feira, 3 de junho de 2014







O desespero do vento ao relento gritando pedras e cuspindo flores; exalando rochas e salivando conchas... Incauta maré que sangra no olhar salino. Outono escama nostalgia. Eis os moinhos girando em movimentos impróprios. Joelhos cálidos, imersos na espuma terna da maré que reflete o orgasmo, tornando-o ausente, contraproducente num percalço infindo que degusta e regurgita o vazio contínuo, a fé morta em pomares de absinto. Descalabro escafandrista do "indizer" internalizado no olfato, insipidamente calejado, e incrustado na superfície do amanhecer incógnito, indelevelmente anárquico. Nuvens de asfalto mal podado, cinzas subvertidas no abismo do escárnio; ócio deformado em aflição; conversão do dia em noite em ácidas e alomórficas alusões.

(Sidney Machado e Fernando Rodrigues)


Obs.: Texto em sua primeira versão, sem revisão.

sexta-feira, 30 de maio de 2014





Alheias e dispersas
Rimas
Invadindo a lepra
Das humanas ruas
Águas turvas
Nuvens obscuras.
Leitores é o que se pede.




Mergulhados e fragmentados
Versos
No sorriso ausente
Displicente
Carente.
A poesia também o é.






                                                    Aladas e desvairadas
Palavras
Em direção
A minguante e imponente
Lua
Sempre na sua
Em silêncio claro
Com seu mistério
Lírico
Lúdico
Etéreo
A nos transfigurar.

quarta-feira, 28 de maio de 2014





                                                            As 4 operações

(x) emoções
interpretações
(+) vivências
experiências
(-) didatismos
ingenuidades
desnecessidades
(:) imagens
ideias
domínio de linguagem.

(ser poeta?)

segunda-feira, 26 de maio de 2014



Vidas
Que passam
Passageiras
Vidas
Absorvidas
Em dias
Sem vida
Vidas
Diluídas
Líquidas
Escorridas
Vidas
Secas
Vidas
Mortas
Nossas
Vidas
Perdidas
Vidas
Que passam
Passageiras
Vidas.

domingo, 25 de maio de 2014

O alternativo discurso
De coexistir
Invariavelmente
De forma
Irrequieta
Preponderante
-Se é que essa
Invisível seta
Aponta
Para Algum
Possível subsistir
Mais à frente-
Contraditoriamente
Torna-me livre
Porém, proporcionalmente
Prisioneiro
De vozes inconscientes.

Nessa conjuntura
Meu ego, novamente
Faz-me
Displicente
Incoerente
Corriqueiramente andarilho
Algo sem rumo
Prestes a apertar
O gatilho.

Provavelmente morto
Eu me faça
Muito mais digno.
Talvez de um
Suave sorriso
Há muito aguardado
Esperado
Escondido num fundo
De quarto.
Ou então de uma
Derradeira lágrima enjaulada
Nunca antes exposta
E por longo período
Petrificada
Impedida de ser, finalmente
Entregue, derramada
Sob essa alma
Inquieta
Cansada
E, enfim
Sobreposta
Derrotada.




sexta-feira, 23 de maio de 2014

                                            
        
                                                                              ***


Razões esfacelam-se
Esvaziam
Deturpam
Desapropriam
Ideias
Hoje, obscurecidas
Niilistas
Quase banidas
Extraídas
De um
Não-conceito
Feito
Sem jeito
Desfeito
A todo desdobramento
Tormento
Entorpecimento.

terça-feira, 18 de março de 2014

                                                                 

                                                                            Sucumbir
cair
regredir
sucumbir
no devir
de uma sombra
um produto
a priori
incerto
inquieto
reduto indireto
de dias 
famintos
expressos
ofertados
em excesso.

domingo, 9 de março de 2014

                                                   

                                                   Estagnação

                                                 Manhã neblina
                                                 Tarde fumaça
                                                 Noite esquina
                                                 Madrugada rotina.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

                                                           



                                                              Atrito

Inalável
Indegustável
Intragável
Sorriso
Detido
Subtraído
No atrito
Indiviso
De risos
De Dioniso.

sábado, 11 de janeiro de 2014

                                     

                                     Tributo à Literatura Russa

No limiar do décimo nono século
Brilham contos e romances
Dos mestres Pushkin e Gógol.
De suas penas, a Literatura Russa nasceu!
Mas, com Dostiévski e Tolstoi,
No meio deste século fértil,
“Crime e Castigo”; “Guerra e Paz”
Despontam como estrelas
De uma Literatura primeira,
Que o mundo surpreendeu.
Turgueniev legou às letras russas
Forte e intelectual contribuição;
E Tchekhov, que dizer
De seus contos e peças,
De valor magistral?
Tudo fruto da inteligência,
Em outro nível de expressão.
A seguir, Maiakówski, no século vinte despontou.
Grande na poesia!
Górki, por sua vez, no teatro, ascendia.
Dominam Stanislavski e Bakhtin
O campo da análise crítica;
E Bóris Pasternak,
Exímio no romance histórico e realista,
Encerra este singelo poema
Fecha com chave de ouro
A minha sintética lista.